Teu c*, Armínio
- Sara Goes
- 14 de abr.
- 2 min de leitura
Armínio Fraga propõe congelar o salário mínimo por seis anos e escancara o clássico da elite: cortar de baixo pra manter o topo intacto
A elite brasileira tem um talento extraordinário para dar pitaco na vida alheia do alto de suas coberturas com vista pro mar. E Armínio Fraga, como um maestro dessa orquestra dissonante, acaba de nos brindar com uma sinfonia de desfaçatez: propôs o congelamento do salário mínimo por seis anos. Isso mesmo. Seis. Anos. Sem aumento real. Só inflação. Um verdadeiro "presente" àqueles que já contam moeda pra decidir se pagam o gás ou compram o pão.
Armínio, que ajudou a conduzir o país durante a era FHC e sempre teve um carinho especial por políticas econômicas que apertam o cinto dos outros, agora vem com essa pérola travestida de racionalidade fiscal. Diz ele que o congelamento liberaria verba pra serviços públicos. Mas ninguém vê esse zelo todo quando se trata dos juros estratosféricos que engordam o bolso dos rentistas. Por que não congelar isso também? Por que o pobre sempre vira variável de ajuste?
A fala pegou mal, claro. E não só com políticos da esquerda. Pegou mal com gente que vive no mundo real — aquele onde um salário mínimo mal dá conta de fechar o mês. Uallace Moreira foi certeiro: a proposta de Fraga mostra como a elite brasileira é rápida pra cortar da base e lenta, lentíssima, pra abrir mão de seus privilégios. Ricardo Cappelli foi ainda mais direto: chamou de parasitismo institucional. Eu só diria: teu c*, Armínio.
Porque é disso que se trata. A desfaçatez de sugerir que o problema do Brasil é o salário de quem ganha menos é, no mínimo, um escárnio. É como culpar o chão pela queda enquanto flutua num balão dourado. Gente que nunca viveu com R$ 1.412 por mês não deveria opinar sobre o que é justo pra quem vive. Ou sobrevive.
Mas não pensem que é só ignorância. Tem método. É a manutenção do abismo. É o medo de uma sociedade mais igualitária, onde os privilégios de poucos não se sustentem sobre o sacrifício de muitos.
Portanto, com todo respeito que o povo brasileiro não tem recebido: teu c*, Armínio.
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