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Não, você não é sionista


Há palavras que, de tanto serem esticadas para servir a conveniências, perdem o seu centro de gravidade. Sionismo é uma delas. Tornou-se comum, em certos círculos, a defesa de uma definição mínima e asséptica: a simples crença no direito de Israel existir. Com base nesse alicerce supostamente inabalável, constrói-se um discurso que se permite tudo, inclusive a defesa daqueles que trabalham ativamente contra a segurança e a legitimidade desse mesmo Estado.


É uma posição confortável, mas que não se sustenta. O sionismo nunca foi apenas um parecer favorável à existência de um Estado em abstrato. Foi, e é, um movimento de libertação nacional ativo, um projeto de construção de uma pátria para parte do povo judeu em sua terra ancestral. Essa afirmação carrega em si uma dimensão histórica, cultural e, acima de tudo, política, que é indissociável da realidade do conflito.


Ser sionista não é meramente aceitar o mapa de 1948. É compreender e assumir o dilema trágico e contínuo que a criação de Israel representou. É estar, de maneira fundamental, ao lado do projeto judaico de autodeterminação, mesmo quando se discorda acidamente das políticas de seus governos. A crítica interna é parte da vitalidade de qualquer nação, mas ela se faz a partir de uma solidariedade básica com a coletividade e sua sobrevivência.


Quando o rótulo de "sionista" é usado como um escudo retórico para validar a demonização de Israel e para defender a impunidade de seus detratores, a palavra se esvazia. Torna-se um salvo-conduto, uma ferramenta para dizer: "eu não sou antissemita, mas...". Esse "mas" engole toda a substância da afirmação inicial. A identidade política não se mede pela autodeclaração, mas pela práxis. E a práxis de se alinhar com quem nega a Israel o mesmo direito à defesa e à existência que se concede a todos os outros povos não é uma forma de sionismo.


Acreditar que o sionismo pode ser "purificado" de suas consequências, transformado em uma ideia que flutua acima da história e da geopolítica, é um engano. O sionismo vive no mundo real, um mundo de escolhas difíceis e inimigos declarados.


Por isso, é preciso dizer com clareza. Defender em teoria o direito de um país existir, enquanto se dedica a energia política a proteger quem ataca essa mesma existência na prática, não é uma posição de nuances. É uma contradição que anula a si mesma. Não, isso não é ser sionista.

 
 
 

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