A Crônica da Traição Anunciada: A Fatura do Pragmatismo Chegou No PT Ceará
- Israel França
- 20 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de ago.

Na política, ser chamado de radical ou de pessimista é, por vezes, o preço que se paga por enxergar o óbvio. Em março deste ano, quando vim a público alertar que "Cid se move para passar a perna no governador Elmano", recebi o tratamento de sempre: olhares de soslaio, tapinhas nas costas e o desdém velado dos "figurões" do nosso partido. Fui o arauto da má notícia, o estraga-prazeres que ousava apontar as rachaduras na arquitetura da nossa "sábia" e "inabalável" frente ampla.
Pois bem, a realidade, essa teimosa, acaba por me dar razão.
A recente análise do jornalista Donizete Arruda, detalhando a manobra em curso para esvaziar o PSB de Cid Gomes e migrar os aliados do governador para o PDT, não é uma surpresa. É a confirmação de um roteiro.
É a materialização da traição que anunciei e pela qual fui desmerecido. A desconfiança do Palácio da Abolição, que agora se move para se proteger, é a mesma desconfiança que eu e tantos outros militantes da base expressamos há meses, em vão.
A recente análise do jornalista Donizete Arruda, detalhando a manobra em curso para esvaziar o PSB de Cid Gomes e migrar os aliados do governador para o PDT, não é uma surpresa. É a confirmação de um roteiro. É a materialização da traição que anunciei e pela qual fui desmerecido. A desconfiança do Palácio da Abolição, que agora se move para se proteger, é a mesma desconfiança que eu e tantos outros militantes da base expressamos há meses, em vão.
Preferiram tapar o sol com a peneira. Preferiram acreditar na palavra de quem tem um histórico de virulência contra o nosso projeto, em vez de ouvir a voz da militância que carrega a estrela no peito por convicção, e não por conveniência.
O que assistimos agora não é uma crise, é uma consequência. É o resultado direto de um modelo político, o "Camilismo", que fez do pragmatismo a sua religião. Em nome de uma suposta governabilidade, abraçamos o ex-adversário, entregamos espaços, cedemos em princípios e acreditamos que a lealdade seria a consequência natural de um acordo de poder. Que ingenuidade primária.
Maquiavel, há 500 anos, já nos ensinava sobre a natureza do poder. A aliança com Cid Gomes nunca foi programática. Foi um arranjo tático para derrotar um inimigo em comum. Passada a eleição, a lógica da sobrevivência e dos projetos familiares, tão cara aos Ferreira Gomes, voltaria a se impor. Era previsível. Era evidente.
Meu alerta, agora, se dirige diretamente ao governador Elmano de Freitas. Companheiro, sua lealdade, sua dedicação e sua inegável conexão com o povo cearense estão sendo postas à prova pela arquitetura política que o seu próprio campo construiu. A mesma "frente ampla" que lhe garantiu a vitória, hoje revela-se um cavalo de Troia, pronto para minar o seu governo e fortalecer o projeto de poder dos nossos mais notórios adversários.
A manobra para isolar Cid Gomes pode ser uma tática de sobrevivência necessária, mas ela não resolve o problema estrutural. O problema é um partido que, por vezes, parece ter mais medo de sua própria base de esquerda do que de seus "aliados" de direita.
A fatura do pragmatismo chegou. E ela é alta. Espero, sinceramente, que este episódio sirva para uma profunda reflexão dentro do nosso partido. A política não pode ser um jogo de xadrez onde a militância e a coerência são as primeiras peças a serem sacrificadas. A lealdade que exigimos do povo nas urnas é a mesma que devemos ter com os nossos princípios no poder.
Eu avisei. Não por pessimismo, mas por realismo. E, infelizmente, a história, mais uma vez, está me dando razão.
Israel Segundo de França Cordeiro
Filiado e Militante do PT Brasil




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