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Lula e a jornada do herói na política brasileira

Assim como Luke Skywalker perdeu uma mão em sua jornada, Lula perdeu um dedo; e Bolsonaro pode ser visto como um antagonista no papel de um "Darth Vader", representando forças que ameaçam o sistema democrático

EVARISTO SA / AFP

Não desejo, de forma alguma, parecer oportunista ou alarmista, tampouco estou questionando a robustez da saúde do presidente Lula, que segue forte. No entanto, é impossível ignorar que a dependência da esquerda brasileira em torno dele se tornou insustentável e perigosa, refletindo a incapacidade de produzir novos líderes em meio século. Sem preparação para o futuro, a sobrevivência política do campo é incerta, agravada pela falta de renovação e sustentabilidade. Mesmo nomes promissores, como Guilherme Boulos, não têm a mesma ressonância popular que Lula, expondo o desafio de manter a conexão com a base sem o "totem" que ele representa.

Boulos, com todo o respeito, não é o retirante nordestino, o operário que saiu da pobreza extrema e conquistou o mundo político. Ele é um homem branco, de classe média, com uma trajetória completamente diferente. Isso não é uma crítica pessoal, mas uma observação sobre como ele simboliza outra coisa, algo que não ressoa da mesma forma com a base popular que Lula conseguiu mobilizar.

Lula, por sua trajetória, carrega uma narrativa épica que poderia muito bem inspirar uma série cinematográfica. Sua história de superação pessoal e política o coloca como um verdadeiro arquétipo do herói, alinhando-se aos elementos descritos por Joseph Campbell em O Herói de Mil Faces. Se buscarmos paralelos simbólicos, é possível traçar analogias: assim como Luke Skywalker perdeu uma mão em sua jornada, Lula perdeu um dedo; e Bolsonaro pode ser visto como um antagonista no papel de um "Darth Vader", representando forças que ameaçam o sistema democrático. Embora essa comparação possa soar hiperbólica, a trajetória de Lula possui os elementos universais do mito do herói, refletindo profundamente as aspirações e desafios de um povo.

Campbell identificou padrões narrativos que atravessam culturas, desde o mito de Jesus até histórias modernas como Star Wars e até Matrix. Aliás, em Matrix, outro exemplo clássico da jornada do herói, Morpheus (o Obi-Wan Kenobi, o São João Batista da vez) diz ao protagonista Neo que não existe coincidência, apenas providência. E isso, de certa forma, também reflete a trajetória de Lula. Cada passo, cada provação e vitória parece fazer parte de um caminho quase inevitável, traçado por forças maiores que ultrapassam o próprio indivíduo.

Enquanto isso não acontecer, estaremos presos nesse ciclo de dependência. E isso, sinceramente, é angustiante. A história da jornada do herói pode ter milhares de anos, mas, na política, não podemos depender de um único herói para sempre. É preciso preparar o terreno para um futuro onde a esquerda tenha mais do que uma figura central, mas um movimento sustentável e diversificado. Caso contrário, corremos o risco de ver essa narrativa se esgotar, deixando um vazio difícil de preencher.

 
 
 

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