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A mentira da Globo só reforça a verdade de Lula

Como já nos lembrou Bel: "O que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer." O presidente Lula já entendeu isso ao dialogar com a mesma mídia ardilosa que tantas vezes o encurralou e humilhou, mas que, ainda assim, é capaz de simular um documento histórico potente e dialogar com aqueles que não compartilham da mesma justa mágoa


Poucas coisas ferem mais a integridade de um texto do que começar se justificando... apois! Antes que alguém me acuse de ingenuidade, deixo claro: ninguém está aqui atribuindo à TV Globo qualquer benefício de dúvida. Como bem disse Gleisi Hoffmann no dia da prisão política de Lula, sob o olhar lacrimoso de milhares de pessoas, a emissora é inimiga do Brasil, e, como nordestina, acrescento: é também inimiga do Nordeste. E pegando carona na minha identidade nordestina, reconheço que nós temos por aqui um quê de sebastianismo, mas prometo ao leitor que não utilizo a muleta da sabedoria de Lula como a justificativa mística de que ele está escrevendo certo sobre linhas tortas.

O que parece mais lógico ao leitor: Que o presidente Lula, que dispensa um longo vocativo de suas qualidades, ao aceitar o convite da TV Globo para uma entrevista gravada não sabia o que poderia ser feito com o material; ou que o presidente Lula, dotado de todas as suas faculdade mentais, negociou sua entrevista calculando os danos e ganhos? Acreditar que o presidente, um estrategista calejado por décadas de política e enfrentamentos com essa mesma mídia, entrou naquele estúdio de olhos fechados é, no mínimo, subestimar sua experiência.

A TV Globo, com sua histórica vocação para deturpar narrativas e criar cascas de banana, cumpriu seu papel. Editou, cortou, rebateu — tudo dentro do script. Ainda assim, a escolha de Lula, acertada ou não, foi feita. Há momentos em que se deve enfrentar o inimigo em seu próprio território, e a revista eletrônica mais assistida do Brasil, com seu alcance nacional, oferece uma arena poderosa para dialogar diretamente com o público. Não com a Globo, porque essa já sabemos quem é, mas com o Brasil que ainda se informa por meio dela. Aliás, não é necessário que ninguém lembre ao presidente quem é a TV Globo e é de uma arrogância ímpar fazê-lo. Ninguém mais do que ele sentiu o peso da mão visível e forte da emissora. Essa história não se esquece, mas também não se repete da mesma forma, sobretudo depois da velocidade das redes em desmentir a TV.

E não foi apenas o público progressista que viu Lula ali. Foi aquele eleitor moderado, que talvez tenha se abstido nas eleições, ou até mesmo votado em Bolsonaro, mas que começa a perceber o peso das investigações sobre atos antidemocráticos. O que não aconteceu em 1964. E foi também a população mais ampla, que, independentemente de preferências políticas, ainda vê na Globo um canal de comunicação legítimo. Ignorar esse público seria abrir mão de disputar a narrativa em um momento crucial para a democracia. Seria não conhecer a própria história, aquela mesma que insiste em ensinar ao presidente Lula. A mídia independente, embora possua inúmeras virtudes — incluindo o mérito de permitir que vozes como a minha, com meu sotaque, sejam ouvidas pela primeira vez sem estarem acompanhadas de qualquer estereótipo, típico das novelas da Vênus platinada— e tenha sido um verdadeiro farol da democracia em diversos momentos também tem suas limitações. Uma delas é ter construído um panóptico a partir da perspectiva da esquerda sudestina, potencializando essa ilusão de centralidade em momentos como este, quando este mesmo setor acaba enquadrando o presidente Lula em arquétipos reducionistas, como o de um sujeito de sorte, destituído de capacidade estratégica e intelectual. Uma visão que ignora a complexidade e a habilidade política que o colocaram, mais de uma vez, como o protagonista do cenário brasileiro. 


A repercussão da entrevista

A entrevista de Lula ao Fantástico também trouxe repercussões significativas nas redes sociais. Segundo Pedro Barciela, autor no blog Essa Tal Rede Social e analista de redes sociais, 72% das menções sobre a entrevista foram positivas para Lula nas primeiras horas após a exibição. Um ponto interessante observado foi como as comparações entre Lula e Jair Bolsonaro emergiram de forma espontânea entre diferentes grupos. Entre apoiadores, críticos moderados e até opositores, as imagens de Bolsonaro em um hospital foram repetidamente contrastadas com Lula dando entrevista, com energia e foco, após passar por uma cirurgia no cérebro. Esse contraste não apenas destacou a resiliência de Lula, mas também reforçou a percepção de que seu terceiro mandato é visto como uma antítese clara de Bolsonaro. A ideia de que Lula simboliza a reconstrução e um novo caminho se fortalece a cada gesto ou movimento político bem calculado.

Isso mostra que, além de dialogar diretamente com a população, a entrevista atingiu um ponto sensível nas expectativas do eleitorado: a necessidade de ver um presidente que, em todos os sentidos, se coloca como o oposto.

Contudo, não se atenham às perspectivas de uma nordestina identitária ou ufanista. Atentem-se, ao invés disso, aos sinais dos tempos: "uma nova mudança em breve vai acontecer".

Um olhar mais atento aos movimentos decisivos que estão em curso revela que há uma disputa interna expressiva entre os ministros nordestinos, marcada por uma concorrência concreta que pode, eventualmente, apontar um nome capaz de rivalizar diretamente com Fernando Haddad em uma futura eleição presidencial. Lula observa atentamente aqueles que demonstraram habilidade para administrar esse legado nordestino. Esse legado, que não é meramente o tráfego de votos, mas a gestão cuidadosa dos anseios de uma região que tem a consciência de classe marcada em sua identidade, embora a velha mídia sudestina insista em traduzir isso como simples sentimento de gratidão.

As eleições municipais serviram como um teste de fogo para os ministros nordestinos, expondo suas forças políticas e capacidades de articulação. Se, até o momento, vocês não conseguem identificar qual deles se destacou nesse cenário, talvez seja hora de direcionar o foco para o que realmente importa: o que é notícia. Dedicar atenção excessiva à vigilância dos modos de Lula e Janja, em detrimento da análise política concreta, revela um olhar disperso e pouco atento aos movimentos decisivos que estão em curso.

Portanto, é hora de abandonar aquele olhar provinciano e limitado do Sudeste, que enxerga a política nacional sob a perspectiva de caricaturas. Como já nos lembrou Bel: "O que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer." O presidente Lula já entendeu isso ao dialogar com a mesma mídia ardilosa que tantas vezes o encurralou e humilhou, mas que, ainda assim, é capaz de simular um documento histórico potente e dialogar com aqueles que não compartilham da mesma justa mágoa.


Uma esquerda que adora se perder

O mais curioso nesse caso é observar a reação da nossa própria esquerda. Parte dela agiu como se Lula tivesse sido ingênuo ao pisar naquele cenário. Não há ingenuidade em escolher falar para milhões, mesmo sabendo que enfrentará interrupções e distorções. É política em seu estado mais puro: jogar no campo adversário, aceitar os riscos e ainda sair com a mensagem entregue.

Mas há algo ainda mais curioso digno de uma nota breve: a facilidade com que as culpas recaem sobre Janja. Não bastasse o presidente lidar com um ambiente hostil, ainda precisa suportar o machismo disfarçado de análise política que insiste em responsabilizar sua esposa. A narrativa é tão velha quanto conveniente: se uma análise mostra um erro de Lula, a culpa só pode ser de forças malignas que rodeiam o póbi. Foi assim quando Janja frescou com Elon Musk e sofreu uma saraivada de críticas, principalmente da própria esquerda, sempre vigilante sobre seus modos. Aliás, a TV Globo naquele momento sequer mencionou o desabafo adolescente de Janja. É assim agora, quando a entrevista ao Fantástico desagrada à bolha da classe média digital. 

E aqui entra o ponto central deste texto, incômodo, mas que precisa ser dito. Essa esquerda sudestina-virtual que, apesar de gostar de se ver como farol da inteligência progressista, não sabe que é minoria. Ela subestima o poder da TV em um país onde o acesso à informação ainda depende do sinal aberto, e pega pesado — muito pesado — com o homem que diz amar enquanto, no fundo - e nesses casos na superfície, sempre duvida de sua inteligência.

A verdade indigesta é que Lula nunca deixou de ser visto como um imigrante nordestino semi-analfabeto por essa esquerda. Tratam-no como uma extensão do próprio Nordeste: a nossa força de trabalho e o nosso voto são bem-vindos para salvar o país a cada quatro anos, mas a nossa inteligência e capacidade política são reduzidas a uma resistência quase primitiva, uma teimosia movida a crendices e ingenuidade. Quando se deparam com a estratégia calculada de Lula, preferem menosprezá-la como sorte ou acaso. No fim das contas, eles se agradam do Nordeste apenas para fazer espetáculo, para discursar sobre resistência, mas são incapazes de reconhecer o valor intelectual de nossas lideranças e movimentos. O ódio extremamente localizado e racista contra o ministro Camilo Santana, a despeito das críticas justas sobre a influência da Fundação Lemann no MEC, é um exemplo do que digo, mas que ainda não tenho forças para debater como o presidente Lula ja fez em várias situações, convenientemente ocultadas pela mídia progressista do sudeste.


 
 
 

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