Nem doido, nem corno, tampouco mentiroso
- Sara Goes
- 10 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Este evento médico mostrou, mais uma vez, o abismo moral que separa Lula de Bolsonaro e o pré-sal que deixa Janja e Michelle distantes
O médico Roberto Kalil Filho responde as insistentes perguntas sobre Lula em coletiva de imprensa nesta manhã (10): Nem doido, nem corno, tampouco mentiroso.
A notícia da cirurgia de emergência à qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido na madrugada desta terça-feira (10) provocou uma rápida reação do mercado financeiro, que, com seu habitual cinismo, parece mais preocupado com os reflexos da saúde presidencial nos números da Bolsa de Valores do que com a integridade do líder da nação. Antes mesmo de a Bolsa abrir, os comentários já se voltavam para possíveis impactos econômicos, ignorando que o que estava em jogo ia além de números: era a saúde de um estadista que, com seus 79 anos, ocupa o centro do debate político e econômico no Brasil.

Agora vamos ao que ainda não ouso publicar na coluna azul do 247 que ocupo com tanta insistência e ousadia: Este evento médico mostrou, mais uma vez, o abismo moral que separa Lula de Bolsonaro e o pré-sal que deixa Janja e Michelle distantes.
Há quem diga que a esquerda quer destruir a família brasileira. Mas quem precisa de inimigos externos quando temos exemplos edificantes como o casamento entre Michelle e Jair Bolsonaro? Um relacionamento que, sem dúvidas, eleva o conceito de matrimônio cristão a novos patamares de "companheirismo", "amor" e "intimidade". Claro, tudo isso segundo o que podemos observar publicamente, sem, é claro, cair na tentação de especular além das evidências concretas.
De um lado, temos Michelle Bolsonaro, cada vez mais próxima de sua amiga Damares Alves, reforçando a fé evangélica, sua conexão com cabeleireiros e maquiadores, e se dedicando ao protagonismo político no PL Mulher. Do outro, Jair Bolsonaro, o eterno “mito”, preferindo, em momentos de crise, a companhia de amigos fiéis. Após ser indiciado pela Polícia Federal na Operação Contragolpe, que investigou sua participação em planos golpistas, o ex-presidente fugiu para os braços de Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, em Alagoas. Enquanto Machado tocava sanfona e cantava de forma duvidosa para acalmar o ex-presidente em noites de lágrimas e desabafos, a grande pergunta que fica é: onde estava Michelle nessas madrugadas? Talvez ocupada com compromissos pessoais ou aproveitando a distância para um momento de introspecção.
Para os fundamentalistas cristãos, que veem o divórcio como uma abominação, Michelle e Jair seguem mantendo as aparências de um matrimônio sólido. Afinal, quem se importaria com algumas temporadas de "férias conjugais" quando o importante é salvar os valores da família tradicional brasileira? O exemplo de Michelle e Jair é claro: mesmo quando separados fisicamente (ou emocionalmente), eles seguem unidos na narrativa pública — uma solução criativa e muito prática para evitar as tentações mundanas do divórcio.
Dizem que a união do casal sobreviveu a 47 dias separados após a derrota eleitoral de 2022. E sobrevive também a madrugadas em que Jair escolhe se refugiar com seus aliados mais próximos, como Gilson Machado, enquanto Michelle, em seus próprios círculos de apoio, parece reforçar sua fé e resiliência. Nada mais natural, é claro, para um relacionamento que é uma "rocha inabalável", como gostam de afirmar seus apoiadores.
E quem poderia esquecer os rumores de que um enteado exaltado teria dado um "safanão" em Michelle? Há quem diga que até isso é um sinal da força de sua união. Afinal, se a madrasta ainda é mencionada com desdém, isso só significa que o núcleo familiar está trabalhando duro para manter viva a tradição bolsonarista de tensões dignas de novela.
Com isso, fica a lição: a família brasileira, tal como defendida pela extrema direita, não precisa ser perfeita — só precisa parecer que está sendo defendida de forças malignas que tentam destruí-la. O exemplo de Michelle e Jair nos mostra que, no fundo, ninguém é perfeito. Mas, claro, quem sou eu para especular sobre a vida privada deles? Sou apenas uma idosa sentada na calçada da minha casa presa no corpo de uma mulher de 39 anos sentada numa cadeira... no escritório. Vamos apenas apreciar a ironia de um casal que serve de exemplo para aqueles que juram que só a esquerda destrói os valores tradicionais.
Camarada, sempre sensata e perfeita em suas análises! Parabéns e obrigado!