Entre o discurso e a realidade: o desafio do PSOL em concretizar sua crítica ao PT
- Mimi Zola
- 1 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Em uma postagem nas redes sociais, Sâmia Bonfim expressou preocupação com as recentes sinalizações dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet de ajustes fiscais que poderiam impactar áreas sociais fundamentais e direitos como o seguro-desemprego, o BPC e a multa de 40% do FGTS. Segundo Sâmia, essas propostas decorrem do Arcabouço Fiscal aprovado no ano passado, contra o qual votou, pois acreditava que ele limitaria investimentos públicos essenciais, como em saúde e educação.
Sâmia destacou que medidas de austeridade desse tipo afetam diretamente os mais vulneráveis, enfraquecem o apoio ao governo e prejudicam o desenvolvimento do país. Em resposta, ela anunciou ter assinado um manifesto organizado pela *Movimento Revista*, ao lado de intelectuais, ex-ministros dos primeiros governos Lula, movimentos populares, e colegas parlamentares do PSOL, incluindo Luiza Erundina, Fernanda Melchionna, Glauber Braga, Chico Alencar e Tarcísio Motta.
Ela reiterou seu compromisso de atuar na Câmara dos Deputados contra essas medidas e afirmou que espera barrá-las com o apoio da mobilização social e do debate interno no governo, ressaltando que o teto de gastos não deve se sobrepor aos direitos do povo.
Discurso bonito, mas a realidade é bem diferente. O PSOL é a materialização da crítica teórica e prática ao PT. Assim nasceu e, há mais de 20 anos, se coloca como agente político no campo da esquerda. O PSOL se opõe primordialmente ao 'modo petista de governar' e de disputar as eleições, mas na prática nunca provou de forma concreta uma alternativa viável à disputa pela hegemonia política. A autocrítica e a elaboração de propostas para avançar nas lutas devem ser feitas mesmo por aqueles que acumulam vitórias, mas principalmente por aqueles que entregam resultados pífios à luta da classe trabalhadora.
Por conta de todas as dificuldades nas eleições de 2022, a tentativa de golpe, a frente ampla e o tradicional congresso coalhado de representantes da elite, parte da esquerda, entre eles o PSOL, apostou desde o início do governo que haveria outra tentativa de impeachment, a impossibilidade de governar ou que (essa era a maior aposta) o PT, por pressão, caminhasse mais ao centro, como aconteceu com o PSDB no final dos anos 80 e início dos anos 90, e que isso abriria espaço para outros partidos de esquerda, que "herdariam" parte da militância, principalmente o PSOL, que está ideologicamente mais próximo ao PT. Não abandonaram esse sonho molhado. Não passarão.
A realidade é que o PT mantém, com todas as contradições e tensões, uma representatividade que o PSOL não conseguiu conquistar fora de nichos e círculos urbanos específicos. As dificuldades de organização, a retórica descolada dos dilemas cotidianos e a falta de base territorial sólida expõem as limitações do PSOL. Enquanto isso, o PT, com todas as críticas que lhe cabem, segue mobilizando milhões, garantindo apoio popular nas periferias e dando respostas que, embora moderadas, falam ao povo trabalhador de forma concreta.
Há um abismo entre discursos combativos e ações viáveis de transformação social. Essa barreira precisa ser superada com propostas que, além de resistirem aos retrocessos, tragam uma visão de futuro palpável e inclusiva. No entanto, essa construção só será possível se o PSOL compreender que, enquanto recorre a sonhos de herança política, perde tempo e oportunidade de fortalecer suas raízes junto ao povo, de construir uma alternativa que, antes de ser antagônica, precisa ser tangível e concreta.
J'accuse!
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