Dia do Marinheiro
- Sara Goes
- 2 de dez. de 2024
- 1 min de leitura

No Dia do Marinheiro, em 1968, a casa da minha família foi invadida três vezes, numa demonstração brutal de intimidação. Homens armados com baionetas aterrorizavam meus avós, meus tios e ainda crianças minha mãe e minhas tias, arrastadas pelos cabelos, enquanto saqueavam objetos e tentavam apagar qualquer vestígio da nossa existência. Quase conseguiram. Meu avô, Mário Albuquerque, um comunista da Panair, foi perseguido até sua morte em 1981, transformado em um “morto-vivo” pela ditadura, apagado da história e destituído de tudo que conferia dignidade à sua vida. Não fossem as tardes com seu Annibal, voinho de Nathália Bonavides, lendo e conversando, momentos em que ele reencontrava sua humanidade e reafirmava seus valores, seu Mario teria deixado de existir não apenas nos registros da história, mas também na memória de si mesmo. E ao contrário das viúvas de militares, que recebem pensões robustas e vitalícias, minha avó precisou sustentar sozinha uma casa com nove filhos, além de tantos outros que buscavam proteção, orientação e abrigo.
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