🇩🇪 Crise de governança na Alemanha
- Paola Jochimsen
- 11 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
O Colapso da “Coalizão Semáforo” e o Futuro de Scholz

O mundo mal teve tempo de absorver a avassaladora vitória de Trump nos EUA e já se depara com o colapso do governo alemão. Na última quarta-feira, 6 de novembro, o chanceler Olaf Scholz (SPD) demitiu o Ministro da Economia e Finanças do Partido Democrático Liberal (FDP), Christian Lindner, decretando o fim da Coalizão Semáforo (Ampelkoalition), chamada assim pelas cores dos partidos que a compõem: SPD (Vermelho), Bündnis 90/Die Grünen (Verde) e FDP (Amarelo). Em sistemas parlamentares como o alemão, é comum que coalizões busquem assegurar uma maioria no Bundestag (parlamento federal), visando estabilidade governamental. No caso da eleição de 2021, o partido de centro-direita CDU/CSU, mesmo sendoo segundo mais votado, ficou de fora devido a divergências políticas com o SPD e os Verdes.
Desde o início, a Coalizão Semáforo enfrentou problemas internos devido às diferenças ideológicas entre seus integrantes. O SPD e os Verdes, com visões próximas em temas sociais e ambientais, frequentemente entraram em conflito com o FDP, cujo foco liberal é voltado ao mercado e à austeridade fiscal. Enquanto SPD e Verdes defendiam investimentos públicos para enfrentar a crise energética e a inflação, o FDP se opunha, priorizando o controle orçamentário. Essas divergências geraram meses de disputas internas e culminaram com a saída do FDP da coalizão. Junto ao CDU/CSU, o FDP agora exige novas eleições, expondo ainda mais a fragilidade da coalizão.
No entanto, para que novas eleições ocorram, o sistema parlamentarista alemão exige um processo específico. O chanceler pode lançar mão de uma “questão de confiança” (Vertrauensfrage), usada para verificar se ainda possui apoio no Bundestag. Em momentos de crise, quando o governo enfrenta dificuldade para aprovar leis ou precisa reafirmar sua posição (como o atual), o chanceler pode solicitar que o parlamento vote a favor de sua permanência. Se a maioria dos deputados apoiar o governo, o chanceler mantém seu cargo. Em caso de rejeição, ele pode solicitar ao presidente federal a dissolução do Bundestag e convocar novas eleições dentro de um prazo máximo de 60 dias. Esse mecanismo foi acionado seis vezes na história da Alemanha, sendo a última em 2005, quando o então chanceler Gerhard Schröder perdeu a votação de confiança e Angela Merkel assumiu o poder, onde permaneceu por 16 anos.
O que esperar para os próximos meses?
Com a saída do FDP, Scholz anunciou que pretende apresentar a “questão de confiança” ao Bundestag em 15 de janeiro de 2025. Scholz enfrenta uma impopularidade histórica; uma pesquisa do ZDF-Politbarometer, de setembro de 2024, mostra que 77% dos alemães o consideram “fraco em liderança”, enquanto apenas 17% o veem como uma liderança “forte”. Sua impopularidade se deve às dificuldades em liderar uma coalizão diversa, a resposta lenta à crise energética e à inflação, e uma política externa hesitante em relação à Ucrânia. O atraso nas promessas ambientais também desagradou eleitores. Caso Scholz perca a “Questão de Confiança” e não obtenha apoio da maioria (cenário mais provável), ele poderá solicitar ao presidente Frank-Walter Steinmeier a dissolução do Bundestag, o que anteciparia as eleições para meados de 2025.

Esse é o cenário ideal para o avanço da AfD (Alternativa para a Alemanha). Atualmente com 83 assentos no Bundestag (11,28% do total), o partido de extrema-direita obteve 10,3% dos votos nas eleições federais de 2021 e vem crescendo em eleições regionais. Em setembro de 2024, a AfD venceu as eleições estaduais na Turíngia com 32,8% dos votos. Björn Höcke, um de seus líderes mais radicais, é cotado como futuro candidato ao Bundestag. Além disso, em Brandemburgo, a AfD alcançou 29,7% dos votos, ficando em segundo lugar.
O crescimento da extrema-direita, o apoio da Alemanha à Ucrânia e a Israel, e o baixo desempenho econômico compõem um cenário desafiador para Scholz. No segundo trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha registrou uma contração de 0,1%, após uma leve expansão de 0,2% no trimestre anterior, indicando uma quase estagnação econômica aliados as dificuldades de manter um crescimento sustentável. Além disso, Scholz enfrenta críticas pela falta de uma presença carismática que inspire confiança e una a nação em meio a crises. Sua postura, considerada distante e pouco assertiva, contrasta com a expectativa de um líder capaz de conduzir a Alemanha nesses tempos difíceis. O mundo agora observa atentamente, com um olho nos EUA e outro na Alemanha, basta saber se vamos ser surpreendidos com más notícias provenientes das terras teutônicas.
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